segunda-feira, 13 de julho de 2009

Rock & Roll

Na última semana estive pensando bastante em como me apresentar ao Rock n' Debate. Devo ser o mais novo aqui e sem receios assumo que minhas histórias são bastante mais recentes que a dos outros...

Filho do meio de pai roqueiro, irmão mais novo de destro guitarrista, sempre estive na onda dos mais experientes. No entanto, sei que isso não basta. Sempre acreditei que a boa música não vem pronta ao mundo porque o mundo nunca estará realmente preparado para escutá-la. Imaginem-se agora em 1967, podendo viver a premiere de Syd Barrett e seu mais famoso Overdrive. Imaginou? Nem eu. Independente da quantidade de influências que você tenha tido, levam anos para aprender que não se escuta Eclipse sem Speak to Me, ou que não se escuta Hard Rock Cafe e Morrison Hotel sem abrir uma cerveja. Tenho orgulho em dizer que já roubei cada um dos CDs de rock do meu irmão e já sumi com toda a discografia dos Beatles do meu pai (ele inclusive desistiu de recuperá-la, decidiu deixar comigo a caixinha de veludo marrom com todos os K7s menos Hey Jude, que foi lançado apenas em vinil e ele não pôde comprar).

Comecei como um metaleiro de calça de moleton cinza e camiseta preta com escritos em vermelho, não deve ter sido fácil para minha mãe. Já fã incondicional dos fab-four, aos 13 anos ganhei Fear Of The Dark e foi o máximo porque eu sabia que aquele meu irmão não tinha. Um ano mais tarde comprei meu primeiro CD na Dani Discos, uma lojinha 'de esquina' do bairro onde eu morava. O Dani era um metaleiro peludo que vendia discos bregas pra se sustentar, mas ficou feliz ao saber que aquele moleque queria Iron Maiden - Live at Donnington. Ele não tinha o disco na loja e me disse 'vou buscar na Galeria do Rock para você, passe daqui a dois dias'. E pontualmente passei e peguei meu primeiro CD comprado. Aproveitei para pedir informações sobre a tal Galeria do Rock, como soava bem esse nome. Na semana seguinte marquei com uns amigos e também fiz minha primeira visita...

Não muito tempo depois, me lembro quando meu pai viajou a trabalho para os EUA e lhe encomendei o VHS do Kiss - Animalize, empolgado com o som do Alive III e Killers. Ele me trouxe o show em versão uncensored!, me dizendo que o vendedor havia pego a fita em uma sessão 'especial' da loja! Não nego o constrangimento, não deve ter sido fácil para o meu pai! Semanas depois eu levava aquela fita para o colégio e a carregava como se fosse um troféu até o dia em que descobri que ela realmente era um. Minha primeira paquera, com quem eu nunca tinha trocado mais do que uma sílaba por palavra (oi e tchau), me abordou e disse 'show do KISS?! Me empresta?!'. Houve aquele momento de exitação, eu em estado de choque. Ela se surpreendeu com o gosto musical, mas poderia muito bem se decepcionar com o conteúdo 'extra' da fita! Emprestei o show e disse 'aproveite!', eu não tinha nada a perder e se ela não gostasse o problema era dela! Mas ela gostou, sim, e reservo os demais detalhes! Hehe.

Durante o colegial veio a descoberta do Led Zeppelin e o som que me fez querer aprender a tocar bateria. Eu estudava na Av. Paulista e às segundas-feiras tinha aulas durante todo o dia. Depois do almoço sempre passávamos pelo Conjunto Nacional onde também havia uma lojinha de discos. Percorrendo os pequenos corredores da loja reconheci um album cuja capa era familiar: uma parede toda deteriorada onde estava pregado um quadro de moldura preta com a imagem de um senhor apoiado em sua bengala carregando um apanhado de galhos secos nas costas. Meu irmão tinha aquele CD, era o IV daquela banda e eu já o havia escutado. O nome da segunda faixa, Rock & Roll, me chamou a atenção e a única coisa que passou pela minha cabeça foi 'quanta prepotência!'. Pedi ao vendedor para escutar o CD ainda duvidando que seria realmente possível resumir tudo em uma única música e ainda dar-lhe o nome mais óbvio da história do Rock. Play. A introdução com a bateria em solo era massiva, mas perfeitamente simples. Segundos depois a guitarra não entra, ela monta em cima da música. It's been a long time since I rock and rolled, dizia o estridente primeiro verso enquanto eu encarava arrepiado o velho na capa do disco. Ao final da música me lembro de abrir o encarte em busca de um nome, 'John Bonham - Drums'.

No começo desse ano tive o prazer de viver mais uma vez um momento como esse. Até com certa vergonha admito que me custaram 26 anos para aprender a escutar Jimi Hendrix, mas aprendi. Eu já o conhecia há séculos, mas sempre gostava mais dos covers de Stevie Ray Vaughan, Eric Clapton, e nunca das originais. Certa manhã a caminho do trabalho liguei o rádio do carro, o volume estava baixo e à medida que ganhava minha atenção eu aumentava um pouco. Já estava alto demais quando o vocal finaliza o solo e diz 'Move over, rover and let Jimi take over!'. O prazer é todo meu! Como um pirata que acaba de encontrar o 'X' no mapa baixei toda a discografia do cara, gravei em CDs o Are You Experienced? e Axis: Bold as Love. No dia seguinte, uma sexta-feira à noite, com um copo de whisky na mão me sentei de frente ao stereo e comecei a escutar os discos. A 'experiência-hendrix' durou duas horas e descobri que não eram discos nem músicas, mas estupros musicais. Esgotado, por telefone comuniquei ao meu irmão. Eu estava abençoado.

Bom, espero ter ainda a oportunidade de compartilhar mais histórias e de viver muitas outras com esse blog! Parabéns a todos pela iniciativa! For those about to rock, we salute you!

3 comentários:

Bruno Chiarelli disse...

Hendrix é o número um! Ponto final! Não abro esse tema pra discussão...hehe.

Marcelo disse...

A venda dos discos do Iron no Brasil deve ter alguma correlação com a curva de emprego. Porque o primeiro cd que eu comprei com o meu dinheiro foi o Live After Death. Importado, paguei 15 URV's depois de uns 2 meses fazendo a pé alguns trajetos que normalmente faria de ônibus no meu primeiro emprego de office-boy...

Diogo disse...

Live After Death é a obra prima do Iron! Revelations é um soco na boca do estômago!!! Que discaço!!! Fred, seja bem-vindo!