sábado, 25 de julho de 2009

Brian Wilson

Os Beach Boys são uma banda pouco lembrada no Brasil nas discussões de rock, e pessoalmente acho que vale a pena trazer pontos importantes do que aconteceu naquela década maravilhosa de 60. Mais que isso: eu preciso de um post pra fazer justiça a Brian Wilson, um dos maiores gênios musicais vivos, e dono de uma biografia espetacular. Triste e problemática, mas espetacular.

Filho de pais músicos, o menino Wilson já se destacava por qualidades de voz e sua obssessão por melodias. Antes de chegar aos 20 anos, já havia composto Surfer girl, I get around, Don´t worry baby, California Girls, etc. Os Beach Boys, grupo de Brian Wilson que contava também com dois irmãos, um primo e um amigo, já era uma sensação no meio musical, atingindo o clima de verão californiano em cheio. Os Beatles também vinham a todo vapor, e os anos 60 foram palco de intensa criaçao musical do mais alto nível. Para deixar mais claro: entre 63 e 66, os Beatles tiveram 20 músicas entre as top 10 dos EUA, enquanto os Beach Boys tiveram 13. Vocês têm noção do que é ter, na mesma semana!, Help me Rhonda e Ticket to ride nas paradas??? Ou Yellow Submarine e Wouldn´t be nice?? Sinceramente, eu não tenho, é demais pra mim....só vivendo pra saber.

Atormentado por Rubber Soul, e já insatisfeito com os álbuns que havia feito, Brian Wilson apresenta ao mundo, com 23 anos, o disco Pet Sounds, uma autobiografia emocional, que já deixava claro o tamanho dos seus problemas. Refundou a arte de gravar CDs, incluiu faixas intrumentais, trouxe parceiros para refinar letras. Paul McCartney diz que chora quando escuta God only knows, e que deu Pet Sounds de presente aos filhos, pois era música obrigatória para a vida. A Inglaterra literalmente se dobrava ao fenomeno Wilson.

Os Beatles lançam Sgt. Pepper´s, realizando com Pet Sounds o que muitos consideram como a dupla dos melhores álbuns da história. Wilson enlouquece, e quer subir a dificuldade musical aos seus colegas de banda, que já neste momento não conseguem mais entender a capacidade do gênio. Brian entra em uma espiral de depressão: angústias, pressão da gravadora, desentendimentos com a banda, histórico familiar com seu pai o atormentando, etc. Decide gravar Smile, seu disco definitivo. Apenas a faixa Good Vibrations é lançada: espetacular. Todos aguardam o CD, especialmente os Beatles, que o acompanhavam de perto. George Martin diz: "we waited in vain". O álbum vai para a prateleira. Wilson já não pode mais. A banda já não pode mais. Chegaram ao ponto de usar capacetes de bombeiro no estúdio porque Brian sentia que uma das faixas era tão perigosa (Mrs. O´Leary´s Cow) que acabariam em chamas. Ele tinha cortado as drogas e o álcool do grupo, colocado areia na sala pra poderem compor na "praia", e obrigava todos a comer legumes pra ficarem saudáveis (Vegetables). Ou seja, Brian estava doido de tanto tempo ficando doido.

37 anos se passam. Emocionalmente estável devido ao casamento, Brian chama seu colega de letras, Van Dyke Parks (os outros Beach Boys eram apenas executores das músicas, com exceções pontuais), e canta as partes novamente a ele. Em 99, Brian e sua nova banda abrem uma série de performances ao vivo para o Pet Sounds, podendo realizar o sonho de mostrar ao mundo o que era aquele disco, com orquestra e tudo. Voltou a ter contato com Clapton, McCartney, Elton John, Paul Simon, Billy Joel. Enfim, estava tão poderoso que tinha se reconectado à música. Ou a música a ele? O sonho de Smile permanecia firme, e Brian seguiu em frente.

Em fevereiro de 2004, o disco foi lançado com uma apresentação ao vivo em Londres. A rock royalty estava lá, boquiaberta com o que via. Brian considera esse álbum "uma sinfonia adolescente a Deus". E não parou até agora. That lucky old sun, disco mais recente,
saiu no ano passado, e é muito bom. Depois de décadas sem se pronunciar, o homem parece que abriu novamente a criatividade e segue destruindo em shows mundo afora.

Eu o vi em São Paulo no TIM Festival, já faz anos. Consegui comprar a última mesa, e foi um dos melhores shows que eu vi na vida. Muitos o consideram o Mozart do Rock, um Gershwin dessa geração. E eu estou de acordo. Algumas bandas somem de uma música pra outra. Os gênios são eternos. Ouço Pet Sounds hoje com a mesma empolgação de outras pessoas já há mais de quarenta anos. A mente perturbada do genio Wilson é como um dos nomes das faixas do Pet Sounds: I just wasn´t made for these days. Eu concordo..alguém que fez dois meses de aula, é surdo de um ouvido, e consegue criar o que este senhor criou, não pertence nem a este planeta.

Extras:
1. Brian and Eric Clapton, cantando Warmth of the Sun
2. Entrevista com gênio...aula gratuita de música: Parte 1 e Parte 2

Um comentário:

Marcelo disse...

Brian Wilson é som pra se ouvir em casa, volume alto, e bebendo uma Guinness. Ou sentado em alguma praia deserta curtindo o momento.
Ou seja, som pra se pensar, tentar entender a viagem do cara. Tentei escutar uma vez dirigindo em uma viagem e não funciona.
Esse That Lucky Old Sun pra mim é uma maravilha.

E fica aqui outra dica: Dennis Wilson. O irmão do meio. Começou nos Beach Boys como batera e também compunha e cantava até que resolveu lançar os próprios álbuns.
É dele o ótimo "Pacific Ocean Blue", de 1977. Nem tudo que é genético é doença....